Nóticias Agora

AGORA SÃO FAVAS CONTADAS

Lembro como se fosse hoje. Dois tijolos juntados e alguns paus queimando. Uma panela de barro borbulhando por cima e um cheirinho no ar irresistível! Um cuzinhado de primeira! Me veem na memória a imagem de um amigo meu,‘cumpádi’, que me oferecia um poquim de fava num pratinho de barro bem lisinho, bem pêras bêras mesmo; bem cheim e um taco de rapadura preta jogada carinhosamente sobre a farinha de roça que moldava os grãos que amontoavam aquele prato.
O amigo Vino Martins, fazedor de farinhada me servia o rango na sua palhoça de roçado onde passava um reguim de chuva bem no meio - um cenário peculiar nas redondezas das minhas terras! Ali estava a prataiada de fava canção e amargava feito fel, mas para o homem humilde do campo o que importava naquele instante era matar a fome que assolava seu raquítico e envelhecido corpo e, claro, o meu bucho também de moleque fujão. O que tinha como sobremesa era um velho café pilado e um cachimbo de pau e um rolo de fumo pra quem degustava a velha fumaça.
Naqueles tempos, anos 80, o Bolsa Família nem sonho era. Havia somente um sorriso amarelo de pobreza no coro da cara. Mas eu tava ali, baixim e buxudim fugindo do cotidiano do meu lar pra experimentar a simplicidade dos simples, digamos que o caldim de cebola. 
Isso era por volta de meio dia e um sol quentão bem as estilo da época das boas musicas da MPB – “É verão. Bom sinal. Já é tempo!” - A velha Roupa Nova era um sucesso! Ainda podíamos deliciar um galo de campina a cantarolar nas árvores do redor! Sniif! Sniiff!
Essas lembranças provocaram em mim uma vontade enorme de cumê uma favada bem preparada no ponto e na mistura com pé de porco, calabresa, bacon dos bons e carne de charque e tals e vira e mexe dessas feita pelos riquinhos de hoje. Imaginei-a num pratinho de barro avermelhado ao delicioso sabor picante dos temperos que somente nossas mãezinhas e bares sabem fazer! Com Coca-Cola então nem me fale! Uma delícia.
Poeta Petronio Thomaz
Tudo bem. Fui à feira a fim de comprar um quilinho da danada pra que a mamãe Mariazinha caprichasse com ‘sazon’ pra que seu filhinho querido ficasse fortim, fortim! Que nada! Voltei da feira tristonho e decepcionado com o que vi e o que me assucedeu! De desejo de comer a panelada me deu foi dor de cabeça quando diante do preço do quilo da medonha. Um absurdo. Não quero nem falar no preço da farinha! Isso foi bem recente, nessa segunda-feira passada.
Pensei comigo: Foi a seca danada que te fez tão cara assim! Tá pêros zói da cara! Cara que só o bute! Fosse qualquer fava! Fosse vovó, canção, mulatinha, branca, bacurau, alagoana, ixe! Não tem quem chegasse perto! Concluí: 
- Alimento de pobre virou alimento de nobre. Tava lá na tabuleta: Quilo da Fava: R$ 20,00! Só compra quem pode! E coisa fina, mermão! Tá com a gota jabá! Jabá? Nem me fale nisso, tá cara não, a moléstia! Esqueça ômi! Vamos às forras, digo, às favas. Foi assim que reagi com o feirante quando do preço escrito lá na saca do mercado! 
Quem imaginaria que a velha fava que tanto comi com rapadura lá pras bandas do Riacho do Meio viesse a se tornar nos olhos da cara de tão cara! Bom, com o preço da fava tão elevado assim, nos faltará também para nossa ‘alegria’ a descontração das famílias do nosso brejo/curimataú quando dos pêidos arretados que elas provocam incendiando as salas de TV e os quartos na hora de dormir! O que será na falta das showpeidanças já que os cabrões de nossa cidade gostavam de degustá-la como tira-gosto acompanhada de uma cerva gelaaaada! Foi-se os tempos baratos dos baratos preços da favada, nossa companheira de final de semana! Fava verde nem pensar, hein! Quero ver quem vai balançar o pé de fava agora! Ops! Desculpa aê! Foi mausis, mas é que isso agora é artigo de luxo. São favas contadas!

Por Petronio Thomaz

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